segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Ordem e Progresso

A mídia é aquela vózinha cuidadosa, que faz bolo e questão que o neto escreva com a mão direita. É a vózinha amável que desconfia se o cabelo do neto cresce demais, ou se ele faz amizade com negros. Católica convicta, doa seu dinheirinho com a maior boa vontade mas não se prontifica em visitar a casa de caridade, o legal é ajudar de longe. O que os olhos não veem o coração não sente e as contas com Deus estão em dia. Seu neto acredita no amor incondicional e desinteressado de sua vózinha e cresce vestindo todo dia sua farda de branco, burguês e católico mesmo que não o seja. O importante é parecer ser. Então ele sai por aí parecendo, sendo não sabe bem o quê, mas tem certeza de que indo com a maré destra não terá do que reclamar. A vida do cidadão direito é fácil e super coerente, não gosta de maconheiro, mas adora sair com o carrão do papai para beber com os amigos e bater em uns viados, porque viado não merece respeito. O cidadão direito odeia também qualquer tipo de luta, porque ele já nasceu sem precisar lutar, seus direitos são garantidos desde que cortaram seu cordão umbilical. Não levanta qualquer suspeita e se por acaso as coisas não saem como planejado, não há problema algum, porque as pessoas de farda se entendem, uma grana na carteira e bola pra frente. Cada qual com a sua farda e o resto que aguente o fardo de querer romper o venenoso silêncio da ordem, de ter mania de querer mudar o que já está ótimo, nada de progressos. O cidadão direito dorme o sono dos justos e sonha em ser reitor, governador, opressor,ZZZzzzzzzz....

domingo, 2 de outubro de 2011

Arte e manhas

Eu preciso ouvir a voz das pessoas. Você já viu, quando as pessoas falam uma verdade ,uma verdade delas mesmas que não tenha talvez a ver com qualquer experiência nossa e que eu nem saberia se pra mim também é uma verdade, você já viu como todo corpo quer contar a verdade junto, como quase que o olho fala de tanto brilho junto com a boca e como os dentes ficam aparecendo demonstrando felicidade de ter tanta certeza e tanta coragem de dizer aquilo que faz sentido. Nessas horas é que percebo que qualquer vivência é conhecimento demais. Quando o outro fala que na gente reluz qualquer reflexão, respinga um pouco da intensidade do sentimento alheio, que penso que devemos dar importância pra qualquer pensamento, não deixar escapar nada. É tudo alegria dos sentidos. Você já encontrou quem não tivesse medo de falar e a voz fosse só certeza, mesmo que não pra você mas se tornasse, convencesse. O medo atrapalha a verdade das pessoas, tem gente que nem quer se expressar. Isso é o que mais se vê. A gente vê demais quem não reconhece a importância do que pensa e do que quer. Medo da rejeição, esse medo preguiçoso por ser prévio, esse medo que só cresce. Problema de quem tem. Cada convívio é um segredo livre de ser sentido, um segredo livre porque sabe quem quer. Há tanto em ouvir , que é quase um viver. Pobres das pessoas egoístas que se guardam para si somente e não querem se compartilhar e dividir. Quero ter a chance dos sentidos todos, pra quando precisar ser casulo ter do que lembrar.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Sem rodeios

A graça do rodeio, não acho. Pra mim essa palavra, comparada a um som que manifesta extrema dor, é o verbo odiar de um presente muito presente na primeira pessoa, embora compartilhada por muitas pessoas de caracteres duvidosos, com um “r” na frente, para que o ato odiável não fique em evidência. A graça do rodeio, não vi, não sei. Desconfio que não haja graça alguma. Há, sim, muita covardia por parte de um alguém que ganha algum dinheiro em cima de um animal que sofre. O animal pula ao som da voz pretensiosa de alguém que faz versos pobres, diante de alguns que pensam ser esse ato uma manifestação cultural. Se você que está lendo isso compartilha também dessa ideia absurda, por favor tire o “ltural” da palavra que precede o ponto final da frase anterior e tome o resto para si. As pessoas que se propõem a participar desse tipo de festa sem o menor sentido, se encontram ali mais pelas bebidas e por suas oportunidades no campo afetivo, do que para ver os palhaços na arena. Dois palhaços: um palhaço declarado por cima e outro, sem escolha, por baixo. A crueldade está justamente nisso de não precisar do sofrimento gratuito e ainda assim ser esse o pretexto para que a coisa toda e sua monstruosidade se desenrolem. Não há quem convença de que existe graça no rodeio , além – lógico- da graça de ver o palhaço de cima sofrendo tanto, ou mais, quanto o que está por baixo, em todos os sentidos. Rodeio é igual a sofrimento e por isso é o oposto de festa. Rodeio é animal morto até nas vestimentas. Não há luta no rodeio, há injustiça. Os que fazem parte daquilo que não se esqueçam nunca disso: os únicos machos são os touros.

sábado, 27 de agosto de 2011

Cleaning mood

Dilacerante é a contemporaneidade do sentimento. Ele sozinho e sua vida própria que permanecem. A lágrima que passeia por partes de mim, ela não é minha. Eu por mim comigo mesma já superei. O peso da saudade, independe da vontade, não tem nada a ver comigo. Todo filme , toda música, tudo isso, não me comove mais. Já passou! Qualquer melancolia silenciosamente intensa,não fui eu que escolhi. Todos aqueles suspiros em forma de pretérito mais que perfeito de quem deras, já foi e por isso não é mais.
Sua sombra em mim e tudo mais que você esqueceu de levar, vem buscar. Tá sem utilidade aqui. Entende que em cada fim recomeço. A quem me empurra pra frente agradeço. To sorrindo em cada tropeço.Coisa que me pertence é levantar dessa preguiça. Desse acomodar injusto próprio do medo de se mexer e de descobrir que é melhor.Abrir a janela, bater a poeira. Isso sim é meu. É meu varrer pra fora do meu canto o que não me pertence mais. Esses (ex)tratos que só maltratam. Lixo! O resto , o que sobra, fica sendo saudade existindo mansa, quietinha, como toda saudade deveria de ser.Não carece de sofrer. Vai chegar o dia ensolarado. Vai chegar o tal dia da faxina e eu vou me livrar de tudo isso que insiste mesmo não sendo do meu consentimento.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Desata(dor)


Penso mais do que gostaria
e a parte que me cabe
pequenininha
é só o que me dói.

Se me visse sendo o outro me diria:
Não dá ponto pra tristeza
que a tristeza é vadia
vai se aproximando, ficando , sendo.
Só é triste quem tem tempo para ser.
Se é o que tem pra hoje, vive.
A gente não sabe o que merece.

Diria ainda:
A culpa é sua!

A participação do outro inexiste
dentro da grande expectativa
criada por nós.
Nós!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Alter-retrato

Não quero fazer retrato de uma pessoa triste-na-praça, mas fiquei olhando a menina triste-na-praça e imaginando os motivos que a deixaram como que melancolia.
Eu não tenho nada a ver com isso e também nada para fazer, porque meu ônibus não chega e olhei a menina. Tava sol, ela cinza. A menina na-praça-triste. Poderia sua mãe ter morrido em decorrência de um acidente vascular cerebral que tem recorrência entre qualquer número de idade dos quarenta até o fim. Que pode ser: cigarro, bebida, stress, ou nenhuma das alternativas. Talvez a menina esteja triste porque brigou com seu namorado, por ter amor demais por ele e ele de menos por ela , ou ela só ache isso porque o namorado não gosta de falar, prefere demonstrar. Talvez prefira beijos à rosas em datas comemorativas e isso a chateie. Talvez seja isso. Talvez de manhã antes do trabalho ela decidiu ligar a televisão,mas de manhã na televisão só tinha notícia ruim e ela ficou triste. Acendeu um cigarro atrás-do-outro por causa disso talvez. Por que não? Talvez seja a tensão pré-menstrual que faz com que as mulheres sejam vítimas da inversão hormonal de mês-em-mês e ela esteja triste. Simples assim. Eu sinceramente prefiro que seja tpm, porque aí vai passar. Todo o resto seria triste demais pra minha personagem. Talvez ela não seja triste, só esteja. Meu ônibus chegou, mas é sempre bom frisar que até o fato de só ter notícia ruim na televisão deixa qualquer um triste. Eu fico triste.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Bonfim

Tenho tido medo de perder. A gente sempre tem medo de perder, porque perda é surpresa ruim. Preocupação a mais. É um quase azar. Mas não é dessa perda de sentir medo sempre é que ando por um fio, por uma gota, na corda bamba mesmo. Tô tecendo minha felicidade com a maior atenção tentando não desviar pras tristezas tentadoras. Apaguei as músicas de lembrar outro tempo que não agora e gostava muito. E por falta de coragem de rasgar fotografias, guardei em algum lugar que tento não lembrar todos os dias e acabo lembrando sempre, força do hábito. Tristeza é costume. Cansei! Mas é que as perdas são injustas , não avisam. A mulher me disse:" Já que não avisa aproveita enquanto tem!" Tem mais idade que eu e finge não saber o quanto é difícil. A pessoa que é mais presente em mim talvez eu não veja nunca. O tempo de uma ligação é o mesmo de perder o ônibus se não ficar ligado, que é o mesmo do atraso , que é o mesmo da satisfação- que tem que dar, que é o mesmo do cansaço que acaba - inevitavelmente - em tristeza. Entendeu? Tivesse o pensamento a força de aquietar o outro, de soar no ouvido da criatura em forma de vento uma carícia. Tivesse o pensamento essa força, tudo seria diferente. Agora a perda só vem pra gente se sentir culpado que tem falta de tempo. Prefiro não falar de distâncias, que são pretextos para aí não se ver nunca, mesmo. Queria saber quem que toca o apito disso tudo e marcaria uma conversa, pra convencer que não posso perder ninguém agora, porque isso arrruinaria tudo. Mostraria os calos e falaria dos cansaços de carregar os pesos das coisas todas negativas que se gostam mais quando estão juntas. Convenceria de tão firme sem derrubar uma lágrima para mostrar que já se foram todas. Arrisco até dizer que convenceria tanto essa pessoa que comanda o vapor daqui, que nunca mais perderia um dos meus que fosse. E aí seria feita na vida da pessoa que sofre sem nem saber direito o motivo, por serem tantos, a justiça de saber que a felicidade suada não será abalada por causa de perda nenhuma. Pediria só isso.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Rotina

O dia raiou.
O pássaro cantou.
O time ganhou.
Ele ligou.
E eu não sou feliz.
Me consola:
Ninguém é.

O rancor morreu.
A mágoa esmoreceu.
A esperança renasceu.
Ele apareceu.
E eu não sou feliz.
Me consola:
Ninguém é.

O menino sorriu.
O jovem fugiu.
O velho dormiu.
Ele partiu.
E eu não sou feliz.
Me consola:
Ninguém é.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Exaltação à Primavera

Gosto de ver o amor nascer. Como vejo o nascer do sol. Gosto de contemplá-lo, de sentir suas cores. De perceber os apetites impulsionados pelas aflições de sermos felizes imediatamente.Gosto dos sorrisos insinuando bocas. Da mudança brusca de humor que se derrama em uma forma de alegria constante. Gosto de assistir o fim também. Porque o fim tem lá sua beleza. Como o ocaso que pega de surpresa, sendo a novidade dos olhos no fim da tarde. Gosto de apreciar os silêncios que são simulacros já de todas as distâncias. Gosto de ver as mãos que embora não dadas estão lado-a-lado. Tudo reflexo do idílio final. E gosto da melancolia das sibilantes: ressaca e fossa. Gosto da inspiração do fim. Mais ainda de como ele é superado. Gosto também da Primavera.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Cantilena

Já reparou
que a dor entende muito de ser poesia,
muito mais que alegria.
Qualquer linha, letra
é lágrima grafada.
Luto encadeado em símbolo.

Já reparou
que é feliz o poeta infeliz.
Faz arte com sua tristeza.
Tira sábado da quarta-feira de cinzas.
E do escuro sua oposição luminosa.
Dá carinho à careta.
Dá Saúde no Clínicas.
Apaga o des da graça.

Confessa mais poeta!
Que sua dor
quando faz chorar outros olhos
se enfraquece em arte
e se faz berço
para você descansar menino.
Confessa mais poeta!
Que sua dor quer ser poesia
quer ganhar forma de cançãozinha.

segunda-feira, 7 de março de 2011

É coisa nossa

A noite ensolarava em sorrisos. Era Carnaval. Que no Brasil noite feliz não é Natal.
A criança que nem sabia andar, sabia sambar e depois dormia ao som da bateria.
Canção de ninar.
As baianas desfilavam seus pés cansados e a mocidade alegre observava. Eu vi.
A lantejoula é a escama da pele da passista, resultado da mistura étnica de outros carnavais.
A porta-bandeira talvez nem sabe que traz no seu corpo sua história. Eu sei.

Eles vem emoldurados todos pela sincronia desordenada de vôos finitos.
Tremor.
Vôos alçados pelos braços que portam bastões de asa e cansaços;
Tremor.
De pouso certo, inevitável à beleza.
Tremor.
Circundados pela dissonante comunhão de colisões precisas.
Tremor.
Aconchegados no seio do batuque, do truque de ser feliz.
Tremor.
Fantasiados de felicidade efêmera cujo fim aparenta não ser tom.
Tremor.
Mais bem vestidos do que antes, do que muitos dos que mentem, entre dentes pretos sujos, pros que sentem rígidos o que as gentes muitas, todas cujas asas já se acostumaram ao atrofio, já deixaram de sentir.
Um minuto de barulho pro silêncio e pra tristeza.
Tremor.

Pra você que tem o ouvido deveras refinado pouco preparado para esse som um tanto bagunçado, digo que é compreensível.
Surdo não é só um instrumento.

ºCo-autoria: Dan.
Muito obrigada meu amigo,
para você - poemista - uma flor.
http://poemismo.wordpress.com/

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Não-ditos

Mente vazia é a oficina da paranóia. Que é um eufemismo para Diabo. Que é coisa que tem rabo e deixa aberta a porta. Que é torta, é madeira, é pau e não se endireita. Direita de quem vai. Berço de ouro tem sorte quem tem. Quem tem? Trevo de quatro folhas. Quem tem? Nota de um real é rei. Não sou. Mas fé não falta e não falha. Sou amigo, estou avisando. Quem te viu, quem te vê se aparece, para tomar uma , duas, cinco e não tarda. Que amigo a gente não esquece - tenho o lado esquerdo para provar. Aparece! Que ausência é presente de grego para troiano. Quero presença que é chá que cura gripe de interiorano. E remediado estarei. O povo fala tanta coisa. Eu mesmo conto piada, causo, bafão. Porque sou esperto e o mundo é meu. Estou certo! Está errado no mundo das pessoas essa falta de malandragem com o coração. Os ditos populares são ditos com os olhares e não são em vão, não. Ajoelha no milho da vida quem é de mais malícia e de menos compaixão. Estou dizendo. Também o que não falta é morte. Sorte de quem morre dormindo. Já pedi para Deus. Meu Deus! Já pedi para Alá. Me dá! A morte de sonhar. Descobri o Buda e pedi também e para todos os amigos do além. Essa morte que é prova que fui do bem. Pedi para todo mundo, sim! O que é que tem? O sincretismo está na minha fala e na minha cor. Quer saber, só quero amor.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Otimizando

Hoje é dia de qualquer ruído não ser ouvido.
Não quero nada que impeça a mensagem certa
- a que o ouvido quer ouvir.
Hoje qualquer fantasma , desaparecido.

Pode ir!

Que agora eu entendo um pouco de respeitar o tempo.
Da gente não mandar nele.
Hoje até sol entre nuvens é de dourar.
Até batuque de mão cansada em tambor velho é doce.
Pode acreditar!

Pode ir!

Andei desandando, eu sei.
Desdenhando, também.
Difamando, meu bem.
É que é mal agradecida a saudade.
Só sabe do que não fica.
Perdoa, vai.

Pode ir!

Que hoje há mais calma em mim
- e não sei até quando.
Vai que é sua hora e me deixa com o Carnaval.
Que é pro silêncio não incomodar.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Alvará de Soltura

Nosso poema,
nossa dúvida,
nossa incógnita,
nosso pedaço,
nossa alma,
nossa vida.

Tudo se baseia em um pedaço eterno de incertezas.
Incertezas por medo?
Incertezas por nós?
Incertezas por todos?
Estamos todos condenados a sofrer julgamentos?
Quem me vê por fora, enxerga dentro?
Será que sei quem sou por dentro?
Será que me conheço, me sinto?
Será que estamos todos sujeitos a uma punição eterna?

Punimo-nos por algo que não achamos "punível"?
Ó coerção!
Ó padrões!
Seguirá meus caminhos até o fim de minha vida?
Serás minha amiga?
Ou inimiga?
Te quero longe, mas sei viver sem você?

Me sufoco!

Enquanto vivo, penso.
Enquanto penso, vivo?

Será o antigo feto e atual homem,
um homem realmente prometido ao abismo?
Será que janelas quadradas e portas retangulares, incluem o mundo?
Afinal, que mundo?
Mundo que sou?
Mundo que serei?
Ou mundo em que vivo?

Sou agora a dúvida que tenho.
Sou agora tudo em mim.
Sou um bar e um amigo querido.

Sou agora, você.

ºCo-autoria: Cachos de banana.
Muito obrigada minha amiga,
para você - sol - uma flor.