sábado, 27 de março de 2010

Vencedor

De me arriscar entendo quase nada,
já de me riscar entendo um pouco mais.
Injustiça comigo mesmo?
Escolhi então sofrer!
Sendo essa minha condição.
Sendo essa a minha única opção.
Imposta, ironicamente, por mim mesmo.
O que sou eu senão um forte?
Sim, porque se me falta coragem é
somente pelo fato de já me saber infeliz no fim.
Injustiça comigo mesmo?
Mas já disse que escolho sofrer!
Antes sofrer antes que depois.
E também andando por aí sem histórias,
quem me vê nem sabe...Só eu -só -sei!
O meu maior troféu é fazer da minha
tristeza calada poesia, transformar
meu sofrimento tímido em arte.
Minha vitória é sofrer por não haver
sofrimento algum.
Meu coração bate sem um único estilhaço e
ainda assim dói.

sábado, 20 de março de 2010

Flashback

Tenho raiva das câmeras digitais! E só me resta admitir , gritar em alto e bom som, para todos.Sim, me faz falta o filme nas máquinas fotográficas. Não sou antiquada, nem blasé. Muito menos tenho inveja da sua câmera digital, da finura de uma folha sulfite. Na verdade depois de muito tempo de reflexão sobre o assunto, em meio a flashs, claro.Percebi que não há mais uma preocupação de aproveitar o momento. O que há, na verdade, é a necessidade de tirar fotos de cada segundo, para mais tarde colocá-las no orkut. Antes não! Antes tínhamos , em mãos, 12 ou 24 provas concretas de todos os momentos. Bom , só me resta mesmo entender que hoje tudo é fotocópia... E enquanto meu computador guarda milhares de fotos de milhares de lugares. Minha memória , tão limitada quanto um filme , se esforça para guardar apenas o essencial.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Futuro Blues

Alguém apertou o play e a fita começou a rolar. Se passaram 20 anos desde a gravação. As barbas eram ainda pretas e as mulheres eram impecavelmente charmosas. Ainda são! Todos atentos e surpresos ao se perceberem jovens. Os olhos derramavam lágrimas que agora têm obstáculos, as rugas. Poderiam pausar a fita, fato! Mas não há como pausar a saudade, essa que é zumbido constante, trânsito do meio-dia, criança chorando de madrugada. A saudade já é rotina! Eu jovem que sou, filmava todo flashback com a vista já embaçada,de um ângulo confortável. Dentro da minha cabeça, por amor a eles, travava uma briga com o tempo e a gravidade. Os protagonistas pareciam não se importar. Estavam agradecendo a chance de estar com seus figurantes preferidos, amigos queridos. Sem saber, eu do alto da minha ignorância, do meu camarote jovial, estava sendo ali a única antagonista. The End.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Sol quadrado

O canarinho canta em sua gaiola e sua Dona acha bonito.Música para seus ouvidos,cansados de buzinas. Nem sabe que o canarinho grita. Se sabe silvestre, precisa voar. Sua Dona presa também em sua gaiola do quinto andar, com janela quadrada e porta retangular, ouve o canarinho cantar. Nem sabe que o canarinho clama pelo céu. Como não saber? A Dona muda a gaiola de lugar, a coloca na varanda e ouve sua pequena sinfonia cantar. E - meu deus! - o canto sai quase como um pranto, de quem ganharia o céu, de quem voaria rápido para bem longe...O canarinho tem raiva de sua Dona e dó. Ela deve ser toda inveja de suas asas. Então o canarinho canta como se soubesse que o fim está próximo, mas resiste. Se já sofreu tanto, sofre mais um pouco, oras. Sempre há a tal esperança... Enfim o canarinho, que sonha com o céu, canta, come , bebe e dorme, só não voa. Simples assim. Injustamente...